Para concluir,
o eterno retorno seria a resposta mais radical que se poderia opor à teleologia
cristã e metafísica baseadas na temporalidade linear. No cosmo do eterno
retorno não cabem nem criação nem escatologia, de maneira que se abandona por
completo qualquer esperança numa redenção. No Zaratustra,
o anúncio do além-do-homem vai de mãos dadas com a pregação do eterno retorno
porque, para aceitar a imanência total do mundo através ,morte de Deus, o homem
tem de elevar-se acima de si mesmo, isto é, tem de "declinar" (Untergang)
a fim de que nasça o além-do-homem, visto que só um ser "para além do
homem" (Übermensch) será capaz de afirmar a vida que retorna
eternamente (p. 14 e 15).
Nietzshe quer
abertamente ser um pós-cristão, e, para tanto, não encontra melhor caminho que
o de remontar para trás, até a concepção pagã, grega e pré-individualista do
tempo. Frente à religião cristã, o filósofo propõe, através da morte de Deus,
uma volta ao paganismo antigo cujos deuses agora retornariam para nos salvar da
moral niilista e de suas conseqüências. Desse modo, contra a religião enquanto
consolo, ópio, desejo de morte, neurose, martírio, crucificação, obsessão pela
dor, abre-se espaço à religião enquanto serenidade e afirmação da vida em sua
totalidade simbolizada na figura do deus Dioniso. Não mais se identificaria a
religião com a Igreja enquanto instituição de poder, mas sim, como
espiritualidade e vida interior que sente o vínculo entre indivíduo e terra, e
o impele a identificar-se com a totalidade do todo que existe, afirmando a vida
e compreendendo-se como parte dela (p. 16).
Fragmentos do
texto "Nietszche ou a eternidade do tempo" de Diego Sánches Meca,
professor da Univ. de Madrid (UNED), disponibilizado para os participantes da
palestra ministrada na UNIFESP dia 17.09.2010. Tradução por Vinicius de
Andrade.